TEOLOGIA DA RETRIBUIÇÃO OU TEOLOGIA DA GRAÇA?
Jó 42.1-6
INTRODUÇÃO
É curioso que, em nossas Bíblias, o livro de Jó vem imediatamente após Ester. Parece que há um sentido nessa ordem. Em Ester, Deus não é mencionado. Permanece oculto. Em Jó, Deus é mencionado no início do livro, mas permanece oculto durante o debate entre Jó e seus amigos, manifestando-se somente no final da obra.
Ora, se em Ester Deus parece não agir, em Jó parece que Ele demora a agir. Mas o princípio permanece: Em Ester, mesmo quando parece que Deus está ausente, na verdade, Ele está presente nas entrelinhas da história. Em Jó, mesmo quando parece que Ele demora a intervir no sofrimento humano, Ele certamente o fará.
A grande pergunta e tema central do livro é: “Por que o servo sofre?”
Grandes mistérios existem em relação ao livro de Jó. Um deles é se a história de fato aconteceu ou se trata-se de uma parábola. Outro é sobre a sua autoria. Seu autor pode ter sido Moisés, Salomão ou Jeremias. É mais provável que ele tenha vivido na era patriarcal.
A PROVA DE JÓ
A bíblia diz, a partir de Jó 1.6, que em um dia em que os anjos vieram se apresentar na presença de Deus, Satanás veio entre eles e suscitou uma dúvida sobre a gratuidade da devoção de Jó (1.9): Será que Jó temia a Deus por motivação material? Será que Jó amava mais as bênçãos de Deus do que o Deus das bênçãos? Essa foi a questão levantada por Satanás.
Afinal, os vs.1-5 contam da integridade de Jó em relação a Deus e toda sua riqueza e glória.
Mas Deus aposta na integridade do seu servo Jó, e permite Satanás tocar nos bens, nos empregados e nos filhos do patriarca. Nos vs.13-19, lemos a tragédia que subitamente pairou sobre Jó. São quatro mensageiros anunciando quatro desgraças; ou seja, Jó havia perdido todos os seus bens: bois, mulas, ovelhas, camelos, empregados, filhos e filhas. De rico e próspero, Jó se torna pobre e sem futuro.
A REAÇÃO DE JÓ
Qual foi a reação de Jó? Vejamos o que diz 1.20:
- Em primeiro lugar, ele “se levantou”. É preciso dar o primeiro passo.
- Em segundo lugar, ele “rasgou o manto”. Este manto parece ser uma vestimenta usada por pessoas notórias. Ao rasgá-lo, Jó reconhece que perdeu a notoriedade financeira.
- Em terceiro lugar, ele “rapou a cabeça”. Na Escritura, o cabelo é símbolo do valor do indivíduo. Rapar a cabeça é, portanto, um símbolo da perda da glória pessoal. Neste caso, é um gesto de luto. Jó perdeu seus filhos, sua glória pessoal.
- Em quarto lugar, Jó “prostrou-se no chão”, num gesto de adoração.
- Em quinto lugar, ele orou (v.20). Em sua oração, Jó reconhece que veio nu ao mundo, e morrerá nu (conforme I Tm 6.7,8). Nesse ponto, é oportuna uma observação de Charles R. Swindoll: “Nada temos ao nascer; nada temos ao partir. Tudo o que possuímos nesse intervalo nos é dado pelo Doador da vida.” Tudo que temos é por empréstimo.
No cap.2, os anjos se apresentam novamente, e entre eles, Satanás mais uma vez se infiltra. Deus argüi o adversário, mostrando-lhe que Jó se mantém íntegro e reto (v.3).
Mas, já está provado que Jó teme a Deus independente das bênçãos. Realmente ele serve a Deus “por nada”. Por isso, é inútil o inimigo tocar nos bens de Jó, uma vez que ele continua sendo fiel a Deus. Então Satanás lança outro desafio: “Pele por pele” (v.4). Trata-se de um provérbio usado na permuta de couros de animais. O sentido parece ser este: assim como as peles eram trocadas num mercado, o ser humano está disposto a trocar tudo, inclusive sua devoção a Deus, por causa de sua vida. Essa era a crença de Satanás. Ele também acreditava que Jó certamente blasfemaria contra Deus, caso fosse tocado em seu corpo físico (v.5).
Mas, mais uma vez, Deus confia em seu servo Jó, entregando-lhe nas mãos de Satanás para ser ferido. É notável que Satanás não tenta Jó a pecados que firam a moral ou a ética, como imoralidade sexual, ódio, violência, etc; antes, Satanás incita Jó a ser desleal a Deus. Este é o padrão de Satanás – ele tenta tocar na raiz do problema, ou seja, o relacionamento de Jó com Deus. Ele continua a fazer isso!
Quando Jó pleiteia com Deus a razão de seu sofrimento, nem sequer por um momento, menciona Satanás. A palavra final é de Deus. Satanás não é mais mencionado no livro. O poder está com Deus, e não com Satanás. Por isso, impressiona-me como muitas igrejas contemporâneas falem mais do Diabo do que de Deus. Talvez elas dêem mais poder a Satanás do que ele realmente tem.
TEOLOGIA DA RETRIBUIÇÃO?
A teologia retributiva diz que todo sofrimento é resultado de algum pecado. Elifaz, Bildade e Zofar – os amigos de Jó – enquanto se assentaram calados estavam corretos. Mas, quando começaram a falar afirmaram erroneamente: Se Jó sofre, é porque cometeu algum pecado grave!
Alguém disse que os amigos de Jó estavam “mais preocupados em salvar a doutrina da retribuição do que em sofrer junto com Jó”.
Entretanto, quando Deus responde, ele não o faz para explicar a razão do sofrimento, mas onde nossa esperança deve descansar em meio ao sofrimento.
A COMPREENSÃO DA GRAÇA DE DEUS!
No texto base da meditação, Jó amadurecido diante das respostas de Deus, faz afirmações que podem abrilhantar a nossa fé e nos aproximar daquele em quem podemos descansar nossos anseios e sofrimentos:
A Soberania de Deus (vs.2-3)
Primeiramente Jó afirma a soberania divina, mesmo sem compreender seu agir. Ele diz no v.2: “Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado.”
A palavra ‘sei’ no original significa ‘compreender’. Assim Jó compreendeu que ele não compreendeu! Isso porque no v.3, lemos: “Quem é esse que obscurece o meu conselho sem conhecimento? Certo é que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber.”
Frente à grandiosa soberania divina, Jó apresenta sua incompetência de compreensão. O final do v.3 poderia até ser traduzido assim: “Eu não entendia aquele que faz maravilhas diante de mim, e não compreenderei”.
O Conselho de Deus (v.4)
Agora, Jó afirma estar pronto não mais para perguntar, mas para aprender. No v.4, Jó cita as palavras de Deus para ele: “Agora escute, e eu falarei; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá.”
Jó jogou fora o espírito inquiridor, que falava e perguntava coisas sem sentido, e o substituiu por um coração quebrantado, disposto a ser ensinado pelo Senhor.
Por mais que o caminho no qual trilhamos seja obscuro, e de imediato não consigamos ver o seu fim, precisamos nos apegar nas mãos do nosso Pai celestial, e confiar na direção Dele, tal qual uma criança que confia piamente na segurança das mãos de seus pais.
A manifestação de Deus (v.5)
Jó afirma ter uma nova percepção de Deus. Quando estava nas cinzas, Jó desejou ver Deus (Jó 19.25-26). Entretanto, agora ele pode dizer com segurança no v.5: “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram.”
Veja que Jó não precisou receber tudo de volta para enxergar a manifestação de Deus. Ele ainda estava nas cinzas, mas seus olhos viam a Deus. Sua restauração só aconteceria depois (42.10-17). Ele ainda sentia a dor física; suas feridas ainda estavam abertas. Ele ainda estava abandonado por seus amigos e sofria a discriminação de pessoas que feriam seu emocional.
Mesmo assim, ele pôde dizer: agora eu vejo a Deus! Não devemos esperar a reabilitação para sentirmos a manifestação de Deus em nossas vidas. Deus está conosco em meio ao sofrimento.
A graça de Deus (v.6)
Finalmente, Jó afirma estar arrependido: “Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza.” (v.6).
É importante entender que Jó não se arrependeu de nenhum pecado, mas abandonou seu juramento firme de inocência, parou de advogar em causa própria contra Deus. Agora já não são mais dois oponentes. Jó se afasta da beira da arrogância. A reconciliação está a caminho.
É evidente que a graça conforme Jesus manifestaria em sua vinda estava muito longe de acontecer. Porém, foi a graça de Deus que acompanhou Jó durante sua história e é a mesma graça que quer nos conduzir a um relacionamento íntimo com o Senhor, despido de qualquer interesse nosso para com Ele.
CONCLUSÃO
Para encerrar, as palavras de Paulo aos crentes Filipenses podem nos orientar quanto à compreensão do alcance da graça do Senhor em nosso favor; não por e nem para nossos méritos, mas para que a Sua glória se manifeste em e através de nós: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2.8-9)
Obrigada pelo resumo pois era mesmo o que eu precisava. O livro de Job é bastante grande e encontrei aqui o que procurava
ResponderExcluirVitória
Obrigada, encontrei o que precisava
ResponderExcluirMuito bom estudo.
ResponderExcluirMuito bom estudo.
ResponderExcluirMaravilhoso texto resumindo o livro de Jó. Perfeito!!!!
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