terça-feira, 5 de março de 2013

CULTO OU SHOW?





Amós 5.21-24

Introdução

Eugene H. Peterson, pastor e escritor, defende a idéia de que mais pessoas são exploradas por causa da religião do que por qualquer outro motivo. Ele diz que sexo, dinheiro e poder cedem lugar à religião como principal motivo de ações maldosas.
Realmente, há muito poder na religião. Basta dizer que Deus está falando e a manipulação pode começar a acontecer. Sempre foi assim na história da humanidade e é assim até hoje. A jornalista Marília de Camargo César escreveu o livro “Feridos em nome de Deus”, onde retrata a forma triste e devastadora com que as religiões e seus líderes podem influenciar a vida das pessoas, tomando-lhes até mesmo o direito de ser.
Os profetas bíblicos continuam sendo uma forte voz neste mundo no ensino de uma vida religiosa pura, honesta, digna e cheia de compaixão. Os verdadeiros profetas de Deus jamais se curvavam para uma vida dupla, ou seja, religiosidade por fora e podridão por dentro. Denunciavam o erro sem se importar se ele partia do povo ou de seu rei.
Em meio a essa falsa religiosidade do povo e a corrupção do reino, levanta-se o profeta Amós, natural de Tecoa (local situado a 20 km ao sul de Jerusalém) homem pobre, simples e comum; criador de ovelhas e colhedor de sicômoros (figos silvestres), nascido no Reino do Sul para profetizar contra o Reino do Norte e que vem exatamente denunciar a falsa religiosidade do povo e deflagrar a tremenda corrupção e injustiça operada pelos seus governantes (Amós 1.1 e 7.14-15).
Dentre tantos apelos do profeta, um dos mais eloqüentes é contra a banalização do culto, contra a desconstituição do sagrado. Deus não estava se agradando do culto que era prestado pelo povo.
A igreja de nossos dias também precisa desta mensagem. Temos visto muito de profano no culto sagrado e muito vazio onde deveria haver plenitude do Espírito. Cânticos pobres, poesias vazias e repetitivas, letras recheadas de paixão e secas de ensino. Na verdade, cultos com pouca adoração e muita performance; mais engrandecimento do homem do que humilhação perante Deus. Como diz o Pr. Hernandes Dias Lopes, as pessoas estavam cantando o hino “Grandioso és tu” olhando para o espelho.
Amós é um profeta contemporâneo, portanto. A lição que serviu para Israel serve também para a igreja de nossos dias.

Religiosidade sem sinceridade

Amós diz que o povo de Israel ia ao templo de Gilgal e demonstrava uma religiosidade invejável e rigorosa: festivais, sacrifícios, ofertas e muita música (v.21). Diz ainda que eles mantinham os rituais como se tudo estivesse na mais perfeita ordem na relação com Deus e com o próximo (v.22). Finalmente, que o culto era repleto de canções e instrumentos musicais que abrilhantavam as celebrações de alegria e entusiasmo (v.23).
Entretanto, tudo isso não passava de barulho aos ouvidos de Deus, porque o culto era separado da vida. Paulo diz que o culto que agrada a Deus é o culto racional (Rm 12.2). O culto racional é o culto inteligente e coerente. Isso significa que se o culto que oferecemos no templo estiver distante do culto que oferecemos a Deus em casa, no trabalho, nos momentos de lazer, ou seja, nas relações interpessoais, esse culto não tem o menor significado na presença do Senhor.

Empolgação sem transformação

Não pode haver uma passagem na bíblia que mais demonstra a expressão do desgosto divino com o culto pomposo dos israelitas do que esta com as palavras: “odeio... desprezo... não suporto... não me agradarei... não darei a menor atenção... afastem de mim...” (vs.21-23).
O profeta ensinou a Israel que a religião significa muito mais que um culto, e que não é a fumaça ou o aroma do holocausto que é aceitável a Deus, mas o incenso de um coração sincero e leal. 
Temos visto muita empolgação nos cultos cristãos. Especialmente no momento dos cânticos e hinos. Alguns cânticos levam a tanta emoção que as pessoas não conseguem sequer se conter. Outros, com os hinos, são tão levados pelo saudosismo que se esquecem das riquezas e responsabilidades contidas em suas letras tão marcantes e poderosas.
Falamos e cantamos muita adoração, muita exaltação. Isso é bom. Mas é preciso que cantemos e preguemos sobre a cruz, o sacrifício, a contrição, o arrependimento, o perdão de pecados, a ressurreição. Quantas músicas ouvimos enfatizando temas como estes nos dias de hoje?
O Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, meditando neste mesmo texto de Amós 5, diz que hoje pensamos como Israel, ou seja, adoramos a Deus que, subornado com cânticos, nos dá vitória. Entretanto, Deus quer santidade e não cânticos. Nosso louvor não o muda, mas nossos pecados o levam a indignar-se conosco. O Pr. Isaltino diz ainda que antes de sermos adoradores (o que não é tão relevante assim) devemos ser servos.

Retidão e justiça

Amós fecha esse ciclo com o v.24: “Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene.”
Deus estava cansado do espetáculo de uma religião show. Justiça e retidão têm mais valor aos olhos de Deus do que rituais religiosos. Obediência é mais importante do que sacrifício. Religião sem retidão e justiça não é religião bíblica.
A palavra religião vem do termo latim religare que significa religação com o divino. Entretanto, de nenhum valor tem a ligação vertical (homem e Deus) se primeiro ela não for horizontal (homens entre si).
Os tempos são outros, mas os pecados são os mesmos. A igreja evangélica brasileira cresce, mas não tem ética. Ela diz que vai tomar o Brasil, mas enquanto ela mais cresce, mais o país se corrompe. Os políticos evangélicos, com raras exceções aparecem cada vez mais envolvidos em escândalos de corrupção. A imprensa brasileira proclama que as três classes profissionais mais desacreditadas no Brasil são os políticos, os policiais e os pastores. A igreja faz para agradar-se a si mesma. Infelizmente muitas igrejas hoje crescem com pompa e visibilidade, mas sem transparência e irrepreensibilidade.
Contudo, este verso final pode ser uma ponta de esperança vinda da parte de Deus para o Seu povo. Uma mudança ainda é possível. Aqueles que procuram adorar o nome do Senhor devem ser os mesmos que honram o Seu caráter tanto em palavras como em ações. O interesse pelos direitos e pelo bem-estar do povo de Deus flui como um rio abundante, do Seu próprio coração. Quem deseja servi-lo, deve acompanhar esse fluxo.

Conclusão

Amós deixa claro que Deus procura vida, e não culto. Ele busca adoradores, e não adoração. Enfim, Deus se agrada mais da vida do que do desempenho. Deus prefere mais o ofertante que a oferta.
Não podemos nos reunir como igreja para receber entretenimento. O culto deve ser edificação! Nossa vida deve ser um culto; não um show!
Para encerrar, o apostolo Tiago nos dá em sua carta o conceito bíblico do que a verdadeira religião: “Religião de verdade, que agrada a Deus, o Pai, é esta: cuidem dos necessitados e desamparados que sofrem e não entrem no esquema de corrupção do mundo sem Deus.” (Tiago 1.27 – Bíblia A Mensagem).

Pr. Elias Manoel – 04/10/2012

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