Amós 5.21-24
Introdução
Eugene H.
Peterson, pastor e escritor, defende a idéia de que mais pessoas são exploradas
por causa da religião do que por qualquer outro motivo. Ele diz que sexo,
dinheiro e poder cedem lugar à religião como principal motivo de ações
maldosas.
Realmente,
há muito poder na religião. Basta dizer que Deus está falando e a manipulação
pode começar a acontecer. Sempre foi assim na história da humanidade e é assim
até hoje. A jornalista Marília de Camargo César escreveu o livro “Feridos em
nome de Deus”, onde retrata a forma triste e devastadora com que as religiões e
seus líderes podem influenciar a vida das pessoas, tomando-lhes até mesmo o
direito de ser.
Os
profetas bíblicos continuam sendo uma forte voz neste mundo no ensino de uma
vida religiosa pura, honesta, digna e cheia de compaixão. Os verdadeiros
profetas de Deus jamais se curvavam para uma vida dupla, ou seja, religiosidade
por fora e podridão por dentro. Denunciavam o erro sem se importar se ele partia
do povo ou de seu rei.
Em meio a
essa falsa religiosidade do povo e a corrupção do reino, levanta-se o profeta
Amós, natural de Tecoa (local situado a 20 km ao sul de Jerusalém) homem pobre,
simples e comum; criador de ovelhas e colhedor de sicômoros (figos silvestres),
nascido no Reino do Sul para profetizar contra o Reino do Norte e que vem exatamente
denunciar a falsa religiosidade do povo e deflagrar a tremenda corrupção e
injustiça operada pelos seus governantes (Amós 1.1 e 7.14-15).
Dentre
tantos apelos do profeta, um dos mais eloqüentes é contra a banalização do
culto, contra a desconstituição do sagrado. Deus não estava se agradando do
culto que era prestado pelo povo.
A igreja
de nossos dias também precisa desta mensagem. Temos visto muito de profano no
culto sagrado e muito vazio onde deveria haver plenitude do Espírito. Cânticos
pobres, poesias vazias e repetitivas, letras recheadas de paixão e secas de ensino.
Na verdade, cultos com pouca adoração e muita performance; mais engrandecimento
do homem do que humilhação perante Deus. Como diz o Pr. Hernandes Dias Lopes,
as pessoas estavam cantando o hino “Grandioso
és tu” olhando para o espelho.
Amós é um
profeta contemporâneo, portanto. A lição que serviu para Israel serve também
para a igreja de nossos dias.
Religiosidade
sem sinceridade
Amós diz
que o povo de Israel ia ao templo de Gilgal e demonstrava uma religiosidade
invejável e rigorosa: festivais, sacrifícios, ofertas e muita música (v.21).
Diz ainda que eles mantinham os rituais como se tudo estivesse na mais perfeita
ordem na relação com Deus e com o próximo (v.22). Finalmente, que o culto era
repleto de canções e instrumentos musicais que abrilhantavam as celebrações de
alegria e entusiasmo (v.23).
Entretanto,
tudo isso não passava de barulho aos ouvidos de Deus, porque o culto era
separado da vida. Paulo diz que o culto que agrada a Deus é o culto racional
(Rm 12.2). O culto racional é o culto inteligente e coerente. Isso significa
que se o culto que oferecemos no templo estiver distante do culto que
oferecemos a Deus em casa, no trabalho, nos momentos de lazer, ou seja, nas
relações interpessoais, esse culto não tem o menor significado na presença do
Senhor.
Empolgação
sem transformação
Não pode
haver uma passagem na bíblia que mais demonstra a expressão do desgosto divino
com o culto pomposo dos israelitas do que esta com as palavras: “odeio... desprezo... não suporto... não me
agradarei... não darei a menor atenção... afastem de mim...” (vs.21-23).
O profeta
ensinou a Israel que a religião significa muito mais que um culto, e que não é
a fumaça ou o aroma do holocausto que é aceitável a Deus, mas o incenso de um
coração sincero e leal.
Temos
visto muita empolgação nos cultos cristãos. Especialmente no momento dos
cânticos e hinos. Alguns cânticos levam a tanta emoção que as pessoas não
conseguem sequer se conter. Outros, com os hinos, são tão levados pelo
saudosismo que se esquecem das riquezas e responsabilidades contidas em suas
letras tão marcantes e poderosas.
Falamos e
cantamos muita adoração, muita exaltação. Isso é bom. Mas é preciso que
cantemos e preguemos sobre a cruz, o sacrifício, a contrição, o arrependimento,
o perdão de pecados, a ressurreição. Quantas músicas ouvimos enfatizando
temas como estes nos dias de hoje?
O Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho,
meditando neste mesmo texto de Amós 5, diz que hoje pensamos como Israel, ou seja, adoramos a
Deus que, subornado com cânticos, nos dá vitória. Entretanto, Deus quer santidade
e não cânticos. Nosso louvor não o muda, mas nossos pecados o levam a
indignar-se conosco. O Pr. Isaltino diz ainda que antes de sermos adoradores (o
que não é tão relevante assim) devemos ser servos.
Retidão e
justiça
Amós
fecha esse ciclo com o v.24: “Em vez
disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene.”
Deus
estava cansado do espetáculo de uma religião show. Justiça e retidão têm mais
valor aos olhos de Deus do que rituais religiosos. Obediência é mais importante
do que sacrifício. Religião sem retidão e justiça não é religião bíblica.
A palavra
religião vem do termo latim religare
que significa religação com o divino.
Entretanto, de nenhum valor tem a ligação vertical (homem e Deus) se primeiro
ela não for horizontal (homens entre si).
Os tempos
são outros, mas os pecados são os mesmos. A igreja evangélica brasileira
cresce, mas não tem ética. Ela diz que vai tomar o Brasil, mas enquanto ela
mais cresce, mais o país se corrompe. Os políticos evangélicos, com raras
exceções aparecem cada vez mais envolvidos em escândalos de corrupção. A
imprensa brasileira proclama que as três classes profissionais mais
desacreditadas no Brasil são os políticos, os policiais e os pastores. A igreja
faz para agradar-se a si mesma. Infelizmente muitas igrejas hoje crescem com
pompa e visibilidade, mas sem transparência e irrepreensibilidade.
Contudo,
este verso final pode ser uma ponta de esperança vinda da parte de Deus para o
Seu povo. Uma mudança ainda é possível. Aqueles que procuram adorar o nome do
Senhor devem ser os mesmos que honram o Seu caráter tanto em palavras como em
ações. O interesse pelos direitos e pelo bem-estar do povo de Deus flui como um
rio abundante, do Seu próprio coração. Quem deseja servi-lo, deve acompanhar
esse fluxo.
Conclusão
Amós
deixa claro que Deus procura vida, e não culto. Ele busca adoradores, e não
adoração. Enfim, Deus se agrada mais da vida do que do desempenho. Deus prefere
mais o ofertante que a oferta.
Não
podemos nos reunir como igreja para receber entretenimento. O culto deve ser
edificação! Nossa vida deve ser um culto; não um show!
Para
encerrar, o apostolo Tiago nos dá em sua carta o conceito bíblico do que a
verdadeira religião: “Religião de
verdade, que agrada a Deus, o Pai, é esta: cuidem dos necessitados e
desamparados que sofrem e não entrem no esquema de corrupção do mundo sem
Deus.” (Tiago 1.27 – Bíblia A
Mensagem).
Pr. Elias Manoel – 04/10/2012
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